sexta-feira, 29 de abril de 2016

DIA DA MÃE


Aproxima-se o dia em que, em Portugal, se comemora o dia dedicado à Mãe – o primeiro Domingo de Maio – DIA DA MÃE
É a todas as Mães - as que o são, as que o virão a ser e as que o foram… em Portugal e em todo o Mundo, que dedico este texto a que dei o nome de “Chamada para a vida”

CHAMADA PARA A VIDA

Depois de termos estado uns anos sem nos vermos, quando a minha amiga Márcia se aproximou, verifiquei, com prazer, que conservava aquele corpo escultural que sempre lhe conhecera.
Apesar de rondar os quarenta anos, o seu andar elegante no sapato de sato alto e no caro tailleur de executiva, atraía os olhares de quem com ela se cruzava.
Abraçamo-nos efusivamente, mitigando as saudades acumuladas ao longo de tanto tempo, e que os frequentes telefonemas não conseguiam atenuar.
Impaciente, logo que nos instalámos no restaurante onde iríamos almoçar, perguntei-lhe:
- Afinal que assunto é esse, assim tão urgente, que não podia ser adiado nem um minuto e nem tratado por telefone? – perguntei, com um sorriso.
Márcia assume um ar sério, compenetrado, e responde:
- Sabes? Já há um certo tempo eu e o José temos vindo a falar sobre a questão de formar uma família. A verdade é que nunca pensámos nisso muito a sério. Mas nos últimos dias… a ideia não me tem saído da cabeça. E, na qualidade de minha maior amiga, e com a tua experiência de mãe, gostava que me desses a tua opinião…
Imediatamente penso: o seu relógio biológico começou a contagem decrescente, e ela encara, pela primeira vez com seriedade, a perspectiva de ser mãe.
Márcia continua:
- O que é que tu achas? Ultimamente, eu e o José falamos muitas vezes sobre o assunto, mas estamos indecisos…Por isso pensei em falar contigo, trocar umas ideias, como sempre fazemos quando temos dúvidas. Achas que eu devia ter um bebé?
Com todo o cuidado, sem querer denunciar o que realmente penso, respondo-lhe:
- Bem… isso vai alterar completamente a tua vida…
- Sim, eu sei. Aquelas saborosas manhãs de sábado e domingo na cama, os fins-de-semana fora, sempre que nos apetece… tudo isso se acaba.

Mas não é bem isso que me preocupa – penso para mim mesma.
Gostaria de lhe dizer que as marcas físicas, próprias da gravidez, passam com o tempo, mas o acto de ser mãe deixa uma marca emocional tão grande, tão viva, que a tornará totalmente vulnerável.
Olho para as suas unhas bem tratadas e o fato elegante, e penso que, na qualidade de sua melhor amiga, tenho o dever de a alertar para certos factos. E penso:
- Não há elegância que resista a teres que mudar uma fralda. Se for apenas de chichi, até se suporta. Mas… se estiver suja? Vais ter uma certa dificuldade em te adaptar… 
Contudo… - continuo a pensar – a sensação de tocar aquela pele tão suave, acariciar aquele corpinho morno e macio, beijar aqueles pés pequeninos, de dedinhos minúsculos…

O meu pensamento continua a divagar:
- Nunca mais poderás ler uma má notícia no jornal, sem pensares, angustiada: “E se fosse o meu filho?”.
- Todo o tipo de acidentes, incêndios, naufrágios, irão fazer o teu coração apertar-se de ansiedade e pensar: haverá algo pior do que ver um filho morrer?
Porém… em contrapartida… haverá alguma coisa que se possa comparar à alegria de vê-lo chegar a casa são e salvo, depois da ansiedade da espera? Não, não existe maior  felicidade do que esta!

E penso ainda:
- Sempre que houver uma nota de urgência no apelo - Mamã! - largarás, sem pensar um segundo, a melhor peça de cristal que tenhas entre mãos.
- A tua carreira, na qual investiste os melhores anos da tua vida, será relegada para segundo plano – a maternidade assim o exige.
- Poderás até conseguir uma boa ama para o bebé, na qual confias cegamente; mas muitas serão as vezes em que terás que recorrer a toda a tua auto disciplina para não «dar um pulinho a casa» apenas para te certificares de que tudo está bem com o teu filho. E não raras vezes te questionarás se, afinal, o alto cargo que desempenhas na empresa será, mesmo, mais importante do que o teu papel de mãe.
São estes os pensamentos que me ocorrem enquanto observo a minha amiga, tão atraente.

Devo também dizer-lhe:
- Ainda que percas o peso acumulado durante a gravidez nunca mais te sentirás a mesma.
- A tua vida, tão importante para ti neste momento, terá muito menos valor quando houver um filho. Ele passará a ocupar o PRIMEIRO lugar.
- A relação com o teu marido também sofrerá alterações. É imprescindível que compreendas que se pode amar ainda mais um homem que está sempre pronto para mudar uma fralda, e que nunca hesita quando o filho reclama a sua atenção…
Para tudo isto e muito mais devo alertar a minha amiga. Mas… tenho também que lhe falar na alegria da mãe ao ver:
- O riso descontrolado do bebé ao tocar no pêlo de um cão pela primeira vez;
- Ao ver o bebé aprender a dar os primeiros passos;
- A observar o filho a aprender a jogar à bola…

Absorta nos meus pensamentos só o olhar irónico da minha amiga me faz perceber que tenho os olhos rasos de água.
- É a melhor decisão da tua vida. Nunca te arrependerás! digo-lhe, com a voz embargada. E não acrescento mais nada.

Depois seguro-lhe na mão e, juntas, erguemos uma prece por ela e por todas as mulheres que respondem ou algum dia responderam à «Chamada para a vida». 


PS - ESCLARECIMENTO,  PARA QUE NÃO SURJAM CONFUSÕES:
        ESTE TEXTO É FICCIONADO, FRUTO DA IMAGINAÇÃO DA AUTORA DO                   BLOG - MARIAZITA

domingo, 10 de abril de 2016

MOMENTO DE POESIA - SONHO BREVE

SONHO BREVE




SONHO BREVE

Nem tu, amor, me deste
Aquela paz tão desejada!

No palco imenso que é a vida
Os acenos e sorrisos recebidos
Foram tantos, que me cansei
A responder
A todos e a nenhum.

Braços pendidos
Sem alento, parados, não vi o teu olhar
Na multidão de vultos esfumados.

Por fim, chegaste.

Exaltação!
Puro delírio!
Puros impossíveis!
Pura miragem,
Aos poucos me deixaste.

E ali fiquei, no palco, já sem vida,
Braços caídos, sem alento,
E sem paz!